Gostaria de viver uma vida enchafurdado na ignorância: cego, surdo e mudo aos apelos emitidos pelo mundo e principalmente pela minha consciência. Talvez assim, parasse de pensar, por um minuto, na crise econômica, política, social e ambiental que se abate sobre este planeta. Vítimas de nós mesmos, somos reféns de nosso estilo de vida consumista, individualista e alienante. Escravos de nossas escolhas, nossos atos gravitam na órbita imediatista de nossos desejos, anseios e vontades. Incitados pelos estímulos, principalmente visuais, promovidos por hábeis empresas, interessadas única e exclusivamente no aumento indiscriminado de zeros em sua receita, somos bombardeados pela compra e venda de produtos de toda ordem, de todos os tipos, para todos os gostos, bolsos e idades. Nunca produzimos tanto mas mesmo assim a sombra da escassez ainda nos ronda, nos persegue e nos mata. Talvez, um pouco de lucidez seja necessário para enxergarmos com mais clareza o quanto temos sido levianos, pueris e insensatos. Levados, por uma legião de ofertas, promessas e produtos, nossos bolsos, corações e mentes são preenchidos para logo em seguida serem esvaziados, principalmente de sentido, critério e significado. A vida resumida num árduo atrito entre forças que estranhamente se atraem e se repelem. O trabalho, auge da dignidade, ápice da existência, é ardorosamente defendido e disseminado como algo que nos enobrece, eleva e nos honra. Às humilhações sofridas neste mundo nos resta as consolações oferecidas em outro, e assim passamos por esta vida, desonestos em nossos atos, escolhas e decisões. Que não pesem as contas sobre a mesa e a segurança promovida pelos muros, cadeados e portas. No fundo ninguém se importa.
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