Postado por
Gino Ribas Meneghitti
comentários (0)
Com muita alegria e satisfação aceitei o desafio de ser mais um
colaborador a integrar o vitorioso time do jornal Leopoldinense. Por mais que
esteja habituado a escrever e discorrer sobre diversos temas, confesso ter sido
invadido por aquele "frio na barriga". Diferente daquela ansiedade e
insegurança promovidas pelo medo de não agradar, essa sensação nasce do
compromisso que tenho perante minha consciência e a sociedade, de expor e
defender cada ideia de acordo com os ditames da ética, da beleza e da razão.
Por mais que goze da confiança conferida pelo editor de expor meus
pensamentos de uma forma livre, tentarei primar, sobretudo, pelos interesses
coletivos e sociais, abordando temas e assuntos que possam agregar e
acrescentar algo de bom e positivo na vida dos leitores. Colocarei à disposição
da sociedade, algumas informações relativas à minha experiência com a
dependência química, alcoolismo e recuperação, além de abordar temas atuais sobre
política, educação e cultura.
O ato de escrever, além de ser uma dádiva divina é, ao contrário do que
muitos possam acreditar, resultado de um esforço contínuo e permanente. Nem
mesmo os maiores gênios literários, considerados seres sensíveis e
profundamente inspirados, inclusive por uma força oculta e transcendente, escapam
à tarefa: todos os seus insights
foram frutos de um árduo processo de leitura e reflexão. Como diria Clarice
Lispector, “só se aprende a escrever, escrevendo”, pois não existe excelência
sem prática e determinação. Acredito na lapidação constante de quem se propõe à
hercúlea tarefa de buscar dar o melhor de si em qualquer atividade que venha a
exercer, inclusive na prática da escrita.
Para além do ato de escrever, tenho grande interesse na formação de
novos leitores e em exercer uma influência positiva e benéfica na vida das
pessoas, principalmente em relação aos mais jovens, os quais, muitas vezes,
nunca se empenharam na leitura de livros, revistas e jornais. Poderíamos
enumerar diversos benefícios advindos do hábito de ler, entre eles destaco: o
enriquecimento do vocabulário, maior domínio da língua portuguesa, a melhora
significativa na escrita, aumento do fluxo mental de informações, expansão da
consciência, facilidade ao se expressar, maior oportunidade de emprego,
conhecimento de si mesmo, acesso a outros saberes, dinamismo nas relações
interpessoais, maior capacidade de abstração, aumento da concentração,
desenvolvimento da criatividade e um belo exercício da imaginação. A leitura
opera, de fato, transformações em nossas vidas. Além de provocar um imensurável
prazer, exerce o doce fascínio de nos levar a um novo universo, e para isso só
precisamos de um pouco de boa vontade e mente aberta. O que num primeiro
momento pode parecer um sofrimento insuperável, num segundo se transforma em um
hábito, quase um vício, que dificilmente pode ser extinto naquele que se vê
como seu portador. O livro abre portas, rompe fronteiras e oferece um leque de
possibilidades construtivas e inesperadas ao leitor. Pode ser a simples
constatação de um fato histórico à leitura do horóscopo. Realmente é
fascinante, benéfico e saudável exercitar a mente, estimulando a imaginação e a
criatividade. A leitura de um bom livro alimenta a alma, amplia nosso horizonte
existencial e descerra as portas da ignorância, ajudando-nos a descortinar e
promover o desenvolvimento de nossas potencialidades latentes, além das já
afloradas. É pena, entretanto, perceber que, com o advento dos meios de
comunicação em massa, em especial a internet, estejamos perdendo o hábito e o
costume de nos dirigirmos as bibliotecas e bancas.
A leitura, porém, não é um instrumento interessante aos
que desejam perpetuar o seu domínio opressor, pois forma, educa e
esclarece. Uma massa culta com pensamentos críticos não aceita e não
deixa ser manipulada de forma cega e omissa, afinal a formação de
leitores está intimamente associada à ideia da formação de um povo
consciente, que reflete e questiona. Quem pensa discute, analisa e
pondera, age menos por impulso e não permite ser docilmente conduzido
por ideologias e maneirismos estranhos ao seu modo de sentir e
pensar. De todas as armas presentes em nosso mundo, com certeza a
leitura é a mais poderosa na destruição da ignorância e na extinção
da miséria moral e intelectual dos povos. Toda iniciativa que não visa à
libertação das consciências, aprisiona, condena e escraviza, daí a
importância de se priorizar a educação e a criação de políticas
públicas voltadas para a formação de novos leitores. Só assim os grilhões
da ignorância serão rompidos.
Ler é crescer, ampliar e expandir nossos horizontes, é nos desenvolvermos
enquanto seres pensantes e portadores das mais diversas faculdades. É um
processo catártico que nos funde a uma série de universos que se desdobram num
processo lento, seguro e o principal: realmente necessário. É um manancial de
sabedoria e riqueza que oculta em seu interior a mais singela beleza e o
verdadeiro sentido e significado que repousa em nossa essência.
Postado por
Gino Ribas Meneghitti
comentários (0)
A
reforma do ensino médio, que deveria ser analisada, revista e discutida à
exaustão foi aprovada em três horas pelo senado e sua sanção tem gerado muita
polêmica. Os questionamentos perpassam desde o aumento da carga horária,
redução das disciplinas obrigatórias, admissão de professores até a divisão das
disciplinas por áreas de interesse.
O
aumento da carga horária é um dos pontos mais positivos. Visando à presença do
aluno em tempo integral, as escolas terão o prazo de cinco anos para se
adequarem à nova realidade. Neste período, elas terão a obrigatoriedade de
apresentar uma grade de 1000 horas anuais. A meta estipulada a longo prazo é de
1400 horas, quase o dobro da atual de 800 horas anuais.
A
redução das disciplinas obrigatórias e a divisão das disciplinas por área de
interesse é um dos pontos mais sérios e relevantes a serem destacados. O ensino
da Língua Portuguesa e de Matemática, serão os únicos de caráter obrigatório
nos três anos do ensino médio, que poderá ser cursado de acordo com áreas de
interesse do aluno e da disponibilidade de cada instituição. Todas as escolas
deverão ofertar pelo menos um dos cinco "itinerários formativos":
linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da
natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação
técnica e profissional.
A
escolha das disciplinas e dos conteúdos que serão ofertados poderá afetar,
desde a formação dos nossos jovens, à escolha de sua profissão, e o seu
possível ingresso numa universidade pública. Ora, a partir do momento que o
governo brasileiro optar pela fragmentação do saber e do conhecimento,
privilegiando em demasia, disciplinas com caráter pragmático e aspecto
utilitarista, como no caso, Português e Matemática, a formação de nossos jovens
estará voltada, quase que única e exclusivamente, para atender às demandas
imediatistas impostas pelo mercado. Esta característica tecnicista,
mecânica e utilitária pode ser sentida na ausência de reflexão e senso crítico,
que faz com que o povo seja cegamente guiado e conduzido por instituições interessadas
na sua perpétua dependência e ignorância.
Triste
é pensar que essa reforma poderá ser apenas mais um instrumento para fomentar a
divisão de classes e dificultar o ingresso do aluno de escola pública ao ensino
superior gratuito. Enquanto as escolas públicas poderão oferecer 60% das disciplinas
incluídas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como proposto pela medida,
a escola particular que optar por continuar oferecendo 100% de sua grade
curricular focada nas disciplinas da BNCC, estará anos luz à frente na
preparação de seus alunos para o vestibular, visto que o conteúdo das provas do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), principal via de acesso às universidades
públicas do país, permanecerá o mesmo.
Outra
medida, que tem provocado um certo desconforto, principalmente entre os professores
e os profissionais da educação, é a possível admissão de professores com
"notável saber" para lecionar no ensino técnico e profissional. Além
disso, profissionais graduados, sem licenciatura, poderão lecionar no ensino
médio, desde que realizem uma complementação pedagógica. Resta-nos saber como,
e por quem, serão avaliados e selecionados na prática os professores de
"notável saber" e, ainda, como será possível alguém dominar
determinada matéria e conteúdo apenas com uma complementação pedagógica.
O
aspecto científico, filosófico, histórico, artístico e cultural de uma
nação não pode ser relegado a segundo plano. É impossível avançarmos em termos
civilizatórios sem o devido material humano. Nietzsche, filósofo alemão do
século XIX, já apontava para o perigo de uma sociedade forjada somente por
cientistas e construtores de pontes. As Artes, assim como a Filosofia
e a Sociologia, são alimentos imprescindíveis na formação cultural de nossos
jovens. É impossível qualquer tipo de mudança ou avanço enquanto a nossa base
educacional estiver presa a este molde arcaico, ultrapassado, quiçá
ditatorial, que só serve aos interesses de instituições (Estado, empresas
e igrejas) que almejam lucrar com a mão de obra barata e com uma postura
irrefletida perante a vida.
As consequências são sentidas no baixo nível estético e ético exigido nos meios de comunicação de massa, seja na televisão, rádio ou internet. A preocupação com o belo e com os princípios éticos não estão entre as prioridades daqueles que poderiam operar uma brusca mudança comportamental coletiva. Ao contrário, primam por velar de forma proposital seus verdadeiros interesses e objetivos. Este é o verdadeiro sentido e caráter de toda ideologia.
É preciso um pouco mais de Música, Pintura e Poesia, pois é assustador o acréscimo de sensibilidade promovida pela Arte. É impressionante a quebra de paradigmas proporcionada pela Filosofia, pois ela amplia o olhar e faz o ser transitar por novas dimensões. É revolucionária a experiência catártica operada pelo Teatro, pois nos leva ao encontro de nós mesmos. Enfim, é necessário uma dose generosa de "humanidade" caso quisermos elevar a consciência do "nosso povo".