Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!

 
Atualmente as redes sociais se transformaram num repositório de opiniões e num grande aglomerado de pseudo especialistas, muitos querem e todos podem emitir o seu juízo sem possuir profundo conhecimento do tema esposado: desde pequenos comentários sobre jogos de futebol à análise da política internacional. De fato, todos somos pensadores natos e a facilidade com que temos acesso as informações nos permite refletir e sondar os mais diversos temas e assuntos. No entanto, várias  pessoas parecem se sentir incomodadas com este fato: do povo se meter a pensar e a emitir opinião. Nada mais injusto e preconceituoso, para tanto vale lembrar do célebre filósofo iluminista francês Voltaire  "posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las". Triste é constatar que nós brasileiros carregamos o pesado fardo de sempre sermos retratados como o país do futuro,  como se não fossemos capazes de assumir nosso presente. Infelizmente, ainda não admitimos as nossas raízes, não nos orgulhamos da nossa história e dos nossos antepassados, nossos filhos buscam anestesiados alhures antigos soníferos ideológicos: "países distantes", "pátrias longínquas", nações heroicas, quiçá orgulhosas de sua história e conquistas mas que ainda respiram na decadente atmosfera elitista   preenchida pelos tóxicos gases das  convenções e tradições seculares.  Poderíamos refletir um pouco mais sobre as bases que se fundam este pretenso orgulho, pois deveria ser muito vexatório orgulhar-se da dominação e exploração indiscriminada  de povos e seres, de bens e recursos. Um dos principais motivos de não nos aceitarmos no presente é justamente o fato de evitarmos mergulhar nas profundas águas de nosso remoto passado, isto nos impede de crescer e evoluir, em todos os sentidos e aspectos. O que era para ser uma regra, tornou-se uma exceção: é muito raro você encontrar um brasileiro disposto a conhecer e desbravar a sua história e origem, poucos possuem conhecimentos sobre a cultura e os costumes de nossos povos ancestrais: os indígenas   e os negros. Mesmo com a imensa diversidade de tribos (guarani, guajajara, ianomâmi, xavante, pataxó, tupinambá, etc)  e nações (nagôs, jejes, fantis, axântis, gás, minas, malês, hauças, kanuris, tapas, gruncis, fulas e mandigas etc) , com a riqueza linguística que permeia várias palavras de nosso idioma ainda sim não despertamos para o fato que temos um imenso contingente de informações e relatos a serem transmitidos e estudados, seria uma das mais belas formas de reparação aos danos e atrocidades cometidos contra estes povos no decorrer dos últimos cinco séculos. Seria muita ingenuidade não reconhecer o eurocentrismo implícito nos livros didáticos desde do de  História ao de Ciências, os mitos africanos que remontam mais de sete mil anos não são citados e nem sequer mencionados, ao contrário, são relegados a segundo plano enquanto Ilíada e Odisseia são descritas e erroneamente difundidas como os primeiros poemas épicos do planeta, o que é um grande absurdo tendo em vista a vasta produção poética e literária hindu, onde se destaca os vedas e os upanishads. Por outro lado, temos uma pequena massa ressentida por termos sido dominados e colonizados por portugueses, ora, basta lembrar que na época Portugal era uma das grandes potências mundiais, ao lado da Espanha, seria quase inevitável não sermos "descobertos" leia-se invadidos, por uma destas nações. Poderíamos discorrer sobre os benefícios adquiridos pelo fato de termos sido colonizados pelos portugueses desde da herança linguística, cultural e social até os malefícios - todo bônus tem seu ônus  - produzidos pelo peso excessivo de uma vampiresca monarquia forjada por burocráticos parasitas sociais disfarçados pelos títulos outorgados em troca de favores e privilégios pessoais, um imenso contingente de seres destinados a sobreviver a custa do "Estado", reflexo que se estende até os dias atuais. Mas não podemos deixar de notar as vantagens advindas de tal processo, pois devemos a ele o fato de termos sido educados sobre as bases europeias, e longe da estéril discussão sobre a legitimidade da invasão, não podemos deixar de perceber que isto nos aproximou do berço da civilização ocidental, lançando as raízes que nos iriam distinguir enquanto povo, pois é justamente este laço: português, africano e indígena , que nos caracterizam sobremaneira. Portugal, além de nos trazer a cultura, a ciência e a filosofia, nos ofereceu a imanente  musicalidade da língua portuguesa o que nos rendeu notáveis poetas e músicos de todos os estilos e matizes; a magia dos ritos africanos nos concedeu um dos mais belos sincretismos religiosos do mundo, deu frutos a um ritmo, luta e rito únicos e absolutamente originais, o samba, a capoeira e a umbanda respectivamente,  sem citar os dribles infernais proporcionados pelo molejo e a ginga de verdadeiros gênios da bola; o índio nos cedeu sua relação de amor e respeito pela natureza, novos temperos, novos sabores, conhecimentos milenares sobre o uso de ervas e raízes, plantio, caça e pesca, além de sua religião milenarmente ancestral. Esta miscigenação nos confere atributos únicos e inestimáveis, para o bem e para o mal, pois não podemos deixar de dizer que o português nos trouxe a preguiça e a vontade de tirar vantagem de tudo e de todos, o índio a desobediência e a incivilidade e assim como o negro a forma de pensar as coisas miticamente nos distanciando sensivelmente do aspecto prático, cientifico e racional da vida. Isto tão somente nos serve como possíveis parâmetros na tentativa de compreender melhor a nossa recusa em aceitar o outro enquanto ser vivente, logo pensante (cogito, ergo sum). Se quisermos crescer e evoluir enquanto nação devemos buscar (re) conhecer nossas raízes, matrizes e tradições assim estaremos dando o primeiro passo sincero em direção a aceitação plena do (pensamento) outro. 

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GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

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Frases de Albert Einstein

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

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