Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!


Como se não bastasse o clamor “popular” pela escola sem partido, os mesmos cidadãos reivindicam e sugerem o caminho para uma sociedade também sem partido. Seria simples descrença, ignorância ou ingenuidade? O que leva um indivíduo a acreditar no apartidarismo político das pessoas e das instituições? Talvez a mesma razão que os levou a eleger o autoritarismo ao invés da democracia: o analfabetismo político.


Por quais causas devemos viver e lutar? O que significa ser de direita ou de esquerda? Quais são as ideologias que formam o espectro político? Qual a diferença entre capitalismo e socialismo? Você acredita num mundo pautado em valores individualistas ou coletivos? Você defende uma política pública voltada para os mais ricos e favorecidos, ou para os mais pobres e necessitados? 

Quem defende o apartidarismo político deveria colocar essas e outras questões no rol de suas reflexões, pois tudo isso envolve uma tomada de decisão e de partido. O apartidarismo é fruto da ausência de conhecimento e de reflexão, afinal quem o emite apenas atesta a sua ignorância em relação aos princípios básicos da ciência política. 
Por que os membros da extrema direita estão tão preocupados em implementar a escola sem partido? Porque é de interesse da classe dominante impor seu modo de agir, sentir e pensar aos dominados, perpetuando a atual ordem de coisas e preservando seu status quo. E para isso, nada melhor do que a própria educação. O sistema de ensino, público ou privado, poder ser uma ferramenta de libertação ou de manipulação, de consciências e classes, dependendo do conteúdo e da forma como o mesmo é transmitido e apresentado. 

 A presença, ou ausência, de determinadas disciplinas na grade curricular - como a filosofia e a sociologia, por exemplo – pode nortear comportamentos e condutas: passivas ou ativas, críticas ou alienadas.  Somos responsáveis pelas consequências de nossos atos e escolhas; entretanto, não podemos ser integralmente culpados pelo nosso fracasso em nível educacional e profissional, financeiro e pessoal. Inúmeras variáveis estão em jogo, desde o meio social em que nascemos ao familiar em que somos educados.    

É possível discorrermos sobre meritocracia numa sociedade injusta e desigual, a qual não oferece as mesmas oportunidades para todos? Como competir em condições de igualdade, se os filhos dos mais ricos possuem acesso irrestrito aos melhores lugares, hábitos e pessoas, enquanto os mais pobres são privados muita das vezes do necessário? Como julgar e condenar uma pessoa que na infância vivenciou desde as privações materiais básicas, até o desequilíbrio doméstico e familiar, assimilando e absorvendo cenas de violência e desamor? 

Não justifico nem ouso racionalizar as causas do ódio e da maldade, muito menos reproduzir o discurso vitimista da auto-piedade, mas podemos comparar o ensino das escolas particulares com os da escola pública? Podemos negar que as condições socioeconômicas afetam diretamente a vida das pessoas, para o bem ou para o mal? É impossível defendermos uma escola ou sociedade sem partido, enquanto existir uma sociedade dividida em classes.

  
Quem defende um sistema político e econômico capitalista crê no individualismo, no direito à propriedade privada e na privatização das empresas públicas, afinando-se a uma economia liberal regulada pelo mercado. Aceita também a meritocracia, que diz que todo insucesso e fracasso é de inteira responsabilidade do indivíduo, em sua visão simplista e reducionista do “querer é poder”. 

Por outro lado, quem defende um sistema político e econômico socialista acredita no bem-estar social e coletivo, na divisão de terra e renda e no fortalecimento do Estado e de suas instituições. Sabe que a principal causa da desigualdade social é a divisão parcial e injusta das riquezas produzidas pela classe trabalhadora.         

É perfeitamente normal, compreensível e aceitável que as pessoas se revelem apáticas e desacreditadas, tanto dos partidos quanto dos políticos, diante de tantos maus exemplos. Ainda testemunhamos uma política e uma classe de representantes desavergonhada e viciada, tanto nas práticas como nos hábitos, desde o famigerado “toma lá, dá cá”, até as canetadas em benefício próprio. Escândalos de corrupção com cifras milionárias já estão incorporados e internalizados em nossa alma e cultura há anos. Pouquíssimos políticos mostram-se dispostos a abrir mão dos seus privilégios e vantagens em prol dos interesses da população. A ignorância caminha de mãos dadas com a ingenuidade, e é fruto da falta de investimento maciço na educação pública de qualidade. 

Enquanto a classe trabalhadora não for conscientizada do seu poder de voto e veto, a elite brasileira irá se apropriar indevidamente do seu sangue, suor e lágrimas representado pela sua força de trabalho. Quem possui os meios de produção não quer dividir seu pão, nem tampouco está interessado na elevação de classes e de consciência. Para ele, é mais fácil se render e se acomodar ao luxuoso conforto proporcionado pelo séquito de escravos, dóceis e obedientes do que ter que responder e revelar a origem de seu poder, prestígio e riqueza.



Em virtude da ausência de mobilidade e participação política ativa da população na Câmara Municipal de Leopoldina, nossos mandatários parecem ter se acomodado e esquecido o verdadeiro motivo de estarem ali presentes: legislar, fiscalizar e representar de forma incondicional os interesses da sociedade leopoldinense, independentemente de partido, credo, cor, orientação sexual ou classe social.

Com atitudes autoritárias e desrespeitosas em relação à população, desde do aumento do próprio salário à implantação do décimo terceiro, emitem discursos e juízos incompatíveis com a função e o cargo que exercem.

Nossos gestores são responsáveis, ou deveriam ser, por cumprir e exercer a vontade do povo, seguindo o sentido e significado estrito da palavra democracia.E infelizmente o povo não foi consultado sobre o aumento salarial de seus funcionários. Em qual empresa o funcionário dá aumento para si próprio sem consultar o patrão?

Acho que falta leitura e conhecimento, para não dizer bom senso, respeito e humildade com os contribuintes, que fazem com que a folha de pagamento da prefeitura permaneça em dia e em ordem.

Nosso desânimo e descrença em relação à política e aos políticos alimenta o sentimento de impotência e pessimismo nos levando de encontro à indiferença e até mesmo a alienação.

No entanto, as manifestações ocorridas em Leopoldina, tanto nas ruas como nas redes sociais, trouxeram para o centro do debate, um protagonista que os próprios políticos gostariam de evitar: a sociedade.

Os movimentos sociais, sindicais e políticos são essenciais na manutenção do regime democrático. A democracia nasce quando seus gestores, legitimamente eleitos pelo povo, reconhecem o dever de exercer o seu mandato de acordo com os interesses e anseios da população.

Defender e lutar pela vontade da maioria não é favor, é obrigação. Como se não bastasse o sentimento de ódio, repulsa e revolta perante a iniciativa de aumentarem o próprio salário e criarem o décimo terceiro, alguns vereadores comemoraram abertamente em suas redes sociais, numa atitude de profundo desrespeito com a sociedade, a possível liberação de verbas como contrapartida a não concretização de seus planos frustrados.

Os debates e discussões em torno da participação ou não de partidos políticos nas manifestações de protesto agitaram as redes sociais. O imbróglio surgiu após um determinado partido recolher, em paralelo ao abaixo assinado contra os aumentos dos vereadores, assinaturas contra a reforma da previdência.

Independente das questões morais, devemos nos pautar nos aspectos legais, e não existe nenhum argumento jurídico que impeça ou desautorize o partido a agir da forma como agiu: fato. O mais importante foram as consequências positivas advindas das mobilizações revelando de onde emana o verdadeiro poder: do povo.

Você sabe porquê

despreza o aprendizado
e diz com arrogância
o quanto é desnecessário
pela simples razão
de não ter sido educado  
pois se tivesse sido
não teria ignorado
o prazer de ler,
aprender e aprofundar
debruçar sobre a ciência
outros mundos desbravar  
entre números e cálculos
fórmulas aritméticas
alterar a percepção
sob formas geométricas 
sinta o poder da métrica
não oculte sua dúvida
muita vezes a resposta
é menor que a pergunta
com malícia e astúcia 
busque sempre encontrar
uma forma diferente
de viver e de pensar
analisar e refletir
dedicar e se esforçar
para compreender
o horizonte ampliar
além de assimilar
o que é transmitido
transmute conhecimento
num processo criativo
deixe de ser guiado
por outro instruído
busque por si mesmo
construir o seu caminho
sei que é difícil
parece até impossível
depende da vontade
do lógico raciocínio
olhe o perigo
novamente instaurado
loucos abrindo livros
apagando baseados
lendo filosofia
decorando Camões,
recitando poesia
Vieira e seus sermões
discutindo Nietzsche
em plena luz do dia
distante das muralhas
dos porões da academia 
estou de acordo
com a ciência milenar
somente a educação
tem o poder de libertar
de elevar o pensamento
pra mente poder voar 
nunca deixe de sonhar
acreditar nos belos dias
o amor e a esperança
são a melhor terapia 
 se a luta é desigual
necessário é despertar
vim divulgar a guerra
quem quiser se alistar
é só dar o melhor de si
pro exemplo arrastar   
todo dia o bom combate
vem na porta visitar 
necessário atender
convidá-lo para entrar 
nunca vire as costas
não deixe de escutar
o que tem para dizer
pois podemos ofertar
o silêncio e a atenção
a gesto de um olhar
o poder do abraço
tem o milagre de curar
acredito nas palavras
que foram transmitidas
por um homem sábio
que nunca leu a bíblia  
não frequentou igreja
nem cometeu heresia
detestava a falsidade
odiava a hipocrisia
para os necessitados
sua mão estendia 
e nunca cobrou 
pelo milagre operado
diferente do que vejo
no púlpito pregado
e hoje ele está vivo
aqui do nosso lado
e sempre se revela
ao simples e elevado
basta um pouco de fé
coragem e boa vontade
para também sermos
reflexos de sua imagem


Tente se esquecer do drama

Quem bate também apanha

Olhe bem para a mulher

Com quem divide a cama



Meninos nos sinais

Florescem nos quintais

Pesadelo dos trópicos

Destes tempos imorais



Sempre atento aos sinais

Quem divide sabe mais

Ainda ouço os sinos

De tristes catedrais



Desde outros carnavais

Vampiros atracam nos cais

Sempre brotam cogumelos

Depois daqueles temporais



Princípios transcendentais

Invisíveis, insensíveis

Aos homens ditos normais



Mas agora tanto faz

Importa não olhar pra trás

Entre mortos e feridos

O destino se desfaz



Escrito por Paulo Freire ao título acrescente-se "saberes necessários à prática educativa". Um livro para ser lido e refletido com alegria e entusiasmo, seriedade e espanto. Seu conteúdo é um convite para que todos os docentes e discentes se abram ao diálogo e se apropriem das ferramentas necessárias a arte do ensinar e aprender: autoridade sem autoritarismo, liberdade sem licenciosidade. Somente quando a autoridade do professor respeita a liberdade do educando, e vice versa, é possível usufruir da  troca que existe entre aquele ensina e aprende. Quem ensina é o que mais (re) aprende e quem aprende, por sua vez, também ensina.  Elevar a ingênua curiosidade espontânea ao nível da curiosidade epistemológica é uma das tarefas destinadas ao educador. O livro pode ser lido numa sentada e sua narrativa discorre de forma livre e aberta sobre o processo de educar e ser educado. A educação, assim como a própria ciência e a história, é tratada com um eterno vir a ser. É responsabilidade das gerações presentes e vindouras acrescentar, através do debate e da discussão -  para não dizer da rebeldia e desobediência ( no sentido de não acomodação) - novos conhecimentos e práticas. Como verdadeiro filósofo da educação, sua prática e métodos pedagógicos não se encontram fechados e restritos ao sagrado círculo acadêmico, ao contrário, percorre as vielas escuras e esquecidas dos guetos e favelas. Os analfabetos e excluídos são seus alvos prediletos. A educação como instrumento de transformação da realidade. Não faz sentido a escola se omitir em relação as questões políticas, econômicas e sociais. Ao educador cabe a espinhosa tarefa de se posicionar a favor ou contra os oprimidos ou os opressores. O pensamento de Freire é indissociável da política e não cabe a reflexão de uma escola sem partido. Ou os professores irão reproduzir o status quo vigente, através de afirmações e atitudes conformistas e conservadoras, do tipo "a vida é assim mesmo", "foi e sempre será assim" ou irão abraçar o progressismo e a esperança de dias melhores. A luta de classes começa na escola através do discurso e atos dos professores, além é claro, da grade curricular. Ao professor não cabe o simples papel de apenas transferir, reproduzir e repetir o conhecimento e conteúdo adquirido ao aluno e sim de tentar incentivá-lo a trilhar com os próprios pés o caminho do conhecimento, aguçando sua curiosidade, incentivando suas pequenas vitórias, se aproximando de sua realidade. Ao verdadeiro educador cabe propor e nunca impor seu ponto de vista. Se por um lado sua visão rompe com todo saber sistematizado e absoluto, fechado e pronto, por outro em nenhum momento é capaz de emitir qualquer juízo ou conceito que evidencie um relativismo ético. A pedagogia freireana, idealista e utópica por natureza, se por um lado não se dirige a anjos também não se compactua com demônios. A teoria pedagógica é demonstrada através dos atos e práticas do pedagogo. Ao verdadeiro educador não cabe nenhum tipo de subterfúgio do tipo, faça o que eu digo, não faça o que eu faço. A força do exemplo será sempre a melhor lição, e a que de fato ficará impressa na alma e coração do educando. Um livro para ser degustado e apreciado sem moderação.




Hoje acordei às seis e meia da manhã. Levantei, tomei um banho gelado e enquanto preparava o café fiz questão de colocar uma música para começar bem o dia: Toquinho e Vinícius. Antes de alimentar o corpo é preciso nutrir a alma, de preferência com uma bela dose de romantismo, idealismo e porquê não: ingenuidade. Várias reflexões nasceram espontâneas neste dia de domingo. Para mim, que fui um boêmio convicto, amante da noite e dos bares, acordar cedo sempre foi um martírio. Hoje levanto com uma disposição e humor invejável, sem ressaca física e a principal: moral. Me lembro de todos atos cometidos no dia anterior, desde do primeiro instante ao último filme assistido na Netflix e confesso com orgulho que não me arrependo de nenhum. Claro que não posso esquecer de citar a presença de uma guerreira e companheira incomparável: Patrícia. De forma calma e paciente aprendeu a lidar com minhas manias e oscilações emocionais, dos mais repetidos ritos aos desatinos existenciais. É minha melhor amiga e amante. Me sinto afortunado por partilhar o mesmo teto e espaço, espero que ela sinta o mesmo. Voltando as minhas reflexões iniciais seria impossível não pensar na perda de tempo, energia e dinheiro proporcionado pelas homéricas bebedeiras e outras “cositas más”. Mal da idade dirão uns, falta de juízo e maturidade dirão outros. Não pensem que me transformei num moralista careta e julgador da conduta alheia. Ainda defendo a liberdade e libertinagem para os mais jovens com a condição de assumirem plenamente as consequências de seus atos. Não me venham, depois de optarem por uma vida transloucada, culpar a família, os amigos, os vizinhos e o Estado pela condição que impuseram a si mesmos. Sim, gostaria de entoar o mantra daqueles que repetem a exaustão para si, que não se arrependem de nada que fizeram. Infelizmente jogo no time oposto. Me arrependo e muito. O arrependimento foi tardio porém extremamente necessário. É um remédio amargo pois o tempo não volta. Perdi vários natais e comemorações familiares em função de meu comportamento insano e altamente destrutivo. Vivia para usar e usava para viver, este era o meu drama pessoal. Nesta bela manhã de domingo, não existe nada mais reconfortante do que olhar para trás, contemplar o hoje e perceber que será um dia bem diferente daqueles de 24 horas atrás. Só por hoje!

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GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

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A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

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Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

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