Os sindicatos deverão ser
exorcizados e sua existência demonizada, como se não tivessem tido nenhuma
participação ativa na histórica luta pela aquisição e manutenção de direitos.
Todos os trabalhadores deverão se curvar perante a carta magna do capital. Cada
qual deve ser responsabilizado pelo seu fracasso pessoal, social e
profissional.
Através de um apelo
emocional e sincero devemos fazer com que todas as pessoas de bem se
conscientizem da encenação promovida por todos os pobres e miseráveis. Se
existe algum culpado pela sua extrema condição de penúria e miséria, são eles
mesmos, e assim lavamos nossas mãos perante aos que amam se fazer de vítimas e
pobres coitados.
A história se repete. Desde a abolição da
escravatura, todo e qualquer movimento ou levante que vise à elevação ou
melhoria de nosso povo deve ser fortemente atacado e rechaçado, na base da
força e do golpe. Para tanto, é necessário utilizar de todos os meios e formas:
mídia, justiça e política.
Os donos do poder,
leia-se um por cento da população brasileira, conseguiram, de fato, através do
uso do mito e de repetidas e reiteradas afirmações arbitrárias, persuadir
grande parte da sociedade de que o maior responsável pelos problemas do país é
o Estado e sua incapacidade de administrar e gerir a coisa pública.
A melhor saída, nestes
casos, é entregar nossas riquezas e patrimônios nas mãos de empresas privadas e
de pessoas mais bem preparadas, aquinhoadas e competentes: eles próprios. Os
meios de comunicação de massa ao deturparem a imagem do Estado, passaram a dar
todo crédito e mérito às leis “reguláveis” do mercado.
O mercado, assim como
seus agentes, aparece como uma entidade invisível e abstrata, impessoal e
universal, cujos princípios emanam de sua autorregulação natural e espontânea,
promovida pela concorrência e pela competitividade, pela lei de oferta e
demanda. O Estado, por sua vez, é retratado como particularista e pessoal, corrupto
e partidário.
O papel central dos pseudo-sábios da mídia e do jornalismo é a idiotização da classe média, que por sua natureza soberba e orgulhosa, não se reconhece ou se admite povo e ignorante. Mesmo diante de tantos fatos e acontecimentos nem desconfia que também está sendo cegamente conduzida e manipulada pelas mãos do consumismo e do conformismo político e ideológico.
Os miseráveis, herdeiros diretos da senzala, são responsáveis pelo serviço braçal, bruto e pesado. Aos escolhidos pelo sistema e possuidores de grandes patrimônios, cabe o legítimo direito e dever de explorar e manter à sua revelia e critério este atual estado de coisas.
A escravidão no Brasil é
um ideal mantido às ocultas, mas hoje, através da reforma trabalhista, revela
sua face mais dura e cruel. Por muitos anos, a elite maquiou este fato, de modo
que o discurso mais vendido e aceito é o da vitimização por parte dos pobres e
excluídos.
Bastou a parte mais pobre
da sociedade frequentar os aeroportos para que os mais ricos não demorassem a
demonstrar sua indisfarçável insatisfação, comparando-os a rodoviárias. A
presença dos mais pobres no shopping e universidades incomodou profundamente
uma ala conservadora, branca e elitista, que se considera superior e acima de
seus conterrâneos.
O ódio aos mais pobres é
claro e explícito, e cada qual parece amar o seu opressor. O Brasil é um país
majoritariamente formado e constituído de miseráveis, contudo eles mesmos, ao
atingirem certo status social, se tornam, repentinamente, convertidos à seita
maligna do capital.
Acreditando nas suas
qualidades e na sua vontade de vencer na vida se julgam exemplos a serem
seguidos e admirados, como se suas trajetórias pudessem resumir e atestar uma
infalível receita de sucesso perfeitamente aplicável e praticável por todos.
Mal sabem que sua vida, assim como seus interesses são dirigidos por quem está
vários degraus acima.
Mesmo com a corda no
pescoço, pagando escolas e hospitais privados, a classe média brasileira não se
rende à evidência de que existe uma rapinagem e um sórdido jogo econômico muito
acima do que possa imaginar sua débil inteligência.
Cheios de si e fartos dos
outros, estes seres posam felizes para as fotos, de forma leve e descontraída,
alegre e despreocupada, esquecendo-se que o preço a ser pago é alto: a
escravização de si e do outro.
O poder do povo, ou a democracia, mais uma
vez, deixa de ser exercida em função dos interesses daqueles que dizem nos
representar. E assim caminhamos em direção à ruína de muitos e à riqueza de uns
poucos. E continuo me perguntando: até quando?
0 comentários:
Postar um comentário