Precisava crer em algo realmente
grande e importante que pudesse me restituir o sentido e significado da vida.
Não poderia ouvir nenhum tipo de conselho, nem da minha, nem das outras razões.
Teria que me convencer que seria capaz de escrever sobre algo que pudesse
despertar o interesse de outras pessoas e que fosse digno de ser lido e
principalmente lembrado, como o antigo conceito grego de verdade. Não ousaria
nenhum voo filosófico, literário ou biográfico. O primeiro pela ausência de
capacidade, o segundo de estilo e o terceiro de idade, o tempo sempre está
contra ou a nosso favor, dependendo de onde se quer chegar. Não tenho mais
tempo para nenhum tipo de elucubração ou justificativa mais profundo, apesar de
pressentir a cobrança e a desconfiança das pessoas que estão mais próximas e
que de certa forma, dependem de mim. Nenhum deles acredita que posso
sobreviver e custear a minha vida a partir dos meus textos e obras, até porque,
num país como o nosso, o número de pessoas interessadas em qualquer tipo de
leitura é baixo e irrelevante. A maioria dos escritores, pelo menos aqueles dignos deste nome, escrevem por prazer ou necessidade, no meu caso,
escrevo para fugir de mim na tentativa de encontrar com outro eu. Como se
pudesse ver outro de mim, parado numa esquina me esperando. O encontro conosco
mesmo nos reserva muitas surpresas e a honestidade que o tempo e a experiência
nos conferem nos fazem duvidar de nossa capacidade: será que vou conseguir? Por
mais que ainda seja um traço de narcisismo ou tão somente, pura e simples vaidade,
todos gostaríamos de, em algum momento de nossas vidas, sermos reconhecidos e
admirados. Os mais céticos dariam minha carreira encerrada em nome de minha suposta
presunção; os psicanalistas diriam que escrevo por amor desregrado a mim mesmo
e que minha obra é fruto do egocentrismo, da prepotência e da arrogância; os
mais pragmáticos diriam que busco por um caminho mais cômodo e fácil, fugindo
das obrigações impostas pela rotina e pelo trabalho. Desconheço alguém que
investiria todas as suas fichas e apoiaria de fato, meus projetos, ideias e
ideais. Mas, se analisarmos com calma, cautela e cuidado a vida e obra de todos
os gênios, veremos que muitos nasceram desacreditados, porém a maioria esteve amparado pela presença da riqueza e fortuna, tanto material quanto
espiritual, o que, definitivamente, não é o meu caso. Para escritores medíocres
e medianos, como eu, cabe a escolha por um caminho paralelo e marginal, cheio
de dúvidas, medos e angústias. Um escravo não deve ensaiar seus primeiros voos
sozinho, todos temem seu primeiro impulso e ato em direção a sua própria
liberdade. Certa vez, um destes autores de auto ajuda, disse, que teríamos a
compreensão exata de nossa missão, no momento que relatássemos em detalhes, para
pessoas mais significativas de nossa vida, os nosso desejos, planos e sonhos e
elas simplesmente sorrissem e desacreditassem. Esta pequena negativa e
contrariedade, nos daria a certeza de estarmos no caminho certo. Assim espero.