Uma
das maiores contradições imanentes a sociedade capitalista, se refere à adoção
de um conjunto de valores e princípios defendidos no intuito de fazer com que o
individuo se responsabilize sozinho pelo seu insucesso e malogro. Diante de um
país com taxas tributárias de primeiro mundo e serviços de terceiro, torna-se
necessário um aprofundamento perante algumas medidas e providências tomadas no
intuito de incentivar o consumo e conter a inflação, cujo índice cresce em
passos galopantes. A sociedade tende a reforçar o mito do individualismo nos
aplausos e reverências emitidos àqueles que defenderam e expuseram pontos de vista
que visavam acima de tudo a aferição de lucros exacerbados e a manutenção do
poder e privilégio nas mãos de uns poucos eleitos e escolhidos pelo sistema. É fácil
emitir um juízo econômico e político do alto de seus respectivos postos e
cargos, difícil é admitir de forma honesta, perante a própria consciência, que
milhares de seres nasceram sem a possibilidade de escolherem entre o ser isto
ou aquilo, nem ouso dizer do ter isso ou aquilo. Quando os olhos se fecham a
dimensão humana da existência, é possível contemplar uma geração de cegos
tateando errantes os infindáveis labirintos promovidos pela selva de pedra, em
que a competitividade e a busca incessante por novos mercados se amplia e se fortalece,
transformando-se no único e possível horizonte presente, homens se tornam meios
e meios se tornam fins, o lucro desmedido promovido por negócios escusos e
distantes de qualquer ato ético transparente, tende a ser o refúgio encontrado
por todos aqueles que recusam viver uma vida coletiva baseada em valores e princípios
diversos ao egocentrismo que permeia a base deste tipo de pessoa e
personalidade. O sofrimento diário, de milhares de brasileiros, tende a ser
ignorado e rebatizado com outros nomes por uma elite que se arroga o direito de
legislar em beneficio próprio. Enquanto a classe média não tem seus benefícios e
privilégios previamente atingidos, leia-se: seu próprio bolso, o sofrimento de
seus semelhantes se afigura perfeitamente normal e aceitável, como se a pobreza
pudesse ser extinta com uma dose generosa de boa vontade, afinal, um dos lemas ideológicos defendidos por estes indivíduos se resume no famoso "querer é poder" e para isto apenas uma vontade determinada basta, é preciso ler além das entrelinhas e buscar novas soluções além da economia e da política, é preciso repensar o amor e a condição que nos torna verdadeiramente humanos, é preciso expulsar das nossas relações o egoísmo, o orgulho e a vaidade, estes sim, nossos verdadeiros demônios, pois enquanto subsistirem em nossas vidas nenhum caminho coletivo poderá ser desbravado. Oxalá abençoe a todos.
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