São as crônicas nascidas de
nossas experiências que nos tocam e nos levam as mais belas reflexões, pois é
preciso sentir dentro de si um caos para poder parir uma estrela, já dizia um
célebre filósofo explosivo e antidogmático. A origem dos dogmas reside na
presença do autoritarismo e sua existência permanece somente em ambientes
coercitivos, cuja marca indelével é a incondicional submissão aos valores e
conceitos disseminados como verdades eternas e absolutas. Estas discussões me
levam de encontro à preguiça e a indolência, nada melhor do que deitar e em
absolutamente nada pensar, pois não existe nada mais importante no momento do
que esta chuva que cai deliciosamente lá fora, depois de ter presenciado a
queda de uma tempestade, com raios e trovões, abro a janela e me deparo com um
fim de tarde ensolarado, o que fez surgir um lindo Arco Iris, que sempre
consegue resgatar, de forma direta e espontânea, a minha ingênua e saudosa
infância. Diante de um mundo destituído de valores e de presença, olhar dentro
dos olhos constitui algo de inestimável importância e valor, os antigos
reconheciam as pessoas pela forma como pegavam em sua mão e dependendo da força
e da firmeza era possível medir e prever o caráter e compromisso impresso
naquele aperto, registros de um tempo marcado pelo famoso fio de bigode, em que
a palavra dada valia a honra e dignidade de toda uma existência, cedendo aos
apelos do momento, sou impelido a este tempo, que será irremediavelmente
perdido e esquecido, quiçá se tornará imemorável. As sementes plantadas em meu
coração parecem brotar com esta chuva de reflexões, os grãos de uma filosofia
ativa florescem no solo da mente, a poesia dissemina temas, a história sugere
ciclos, os caminhos não são únicos, são distintos e nada neste mundo permanece,
a tristeza contida nos lábios, a maldade persistente da língua, os fósforos
riscados no quarto, o preço pago pelo suicida, a morte é extensão da vida, e os
quadros serão restaurados, na inútil tentativa de resgatar a sua imanente
originalidade, nomeiam presidentes, vendem-se esperanças, brincam com o destino
do povo, esquecem-se de quem são filhos, aumentam as tarifas, reduzem a
educação, o número de livrarias extintas em Nova York é o reflexo do mais novo
modelo defendido pela cultura do capital, procuram perspectivas, apontam
caminhos, sugerem especulações, nada de novo parece ser criado, alguém
contempla uma nova peça de teatro, o aumento dos preços no mercado e na conta
de energia, baldes espalhados no quintal evidenciam as consequências da seca,
uma nova consciência ressurge no horizonte trágico, a dor novamente impulsiona
o progresso, e um novo jogador contratado ainda anima as conversas
descontraídas dos distraídos que ainda permanecem parados na esquina, o tempo
se avizinha das horas, o mundo se aproxima do medo no elo de chaves e paredes,
janelas e portas, muros e portões, alguém picha no muro a sua própria miséria,
revoluções artísticas da matéria inauguram uma nova era, onde a hipocrisia e a
letargia mental impera, nada de novo, nenhuma novidade, aumentei um ano em
minha idade, o posicionamento dos astros reconstrói minha nova atmosfera, o
homem fera novamente enjaulado, permaneço trancado, no corpo cela a alma
contempla no futuro a sua liberdade, do futuro ainda hoje sinto saudade, até
que me despeça mais uma vez do planeta Terra. A busca incessante pela perfeição, pelo mínimo
teor literário destilado nos versos, pelo respeito contido no mínimo de amor
próprio.
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