Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!

 
A filosofia, num primeiro momento, nasce da necessidade do homem explicar a origem das coisas e do seres, sendo que os primeiros filósofos, os pré-socráticos, também considerados físicos e matemáticos, optaram por realizar esta busca fora deles mesmos, ou seja, acreditava-se erroneamente que a resposta estaria fora da dimensão ontológica, na natureza mesmo. Mesmo discorrendo sobre prováveis princípios e acrescentando inclusive o éter como elemento primordial, assim como a terra, água, fogo e ar, os filósofos pré-socráticos não ultrapassaram os limites impostos pela observação externa dos fatos, por mais que pudessem angariar determinados conhecimentos, inclusive a existência do átomo, por exemplo, foram incapazes de perceber em si mesmo a possibilidade de empreender uma viagem interna a origem do ser. Sócrates é considerado um divisor de águas justamente por este desdobramento, o conhece-te a ti mesmo, faz com que os "olhares" antes voltado para fora, se voltem para dentro, na busca por respostas. Inicialmente indagando conceitos, Sócrates nos leva a um estado de perplexa ignorância, como condição fundamental de todo filosofar, pois aquele ao tomar consciência de que nada sabe, dá um passo em direção ao verdadeiro conhecimento, afinal o que é o real? Onde reside a verdade? O que é e não pode deixar de ser? O problema da realidade das coisas já tinha sido colocado por Heráclito que acreditava que tudo se resume no devir, no vir a ser, a ideia do ser como permanente processo nos leva a refletir pela perspectiva do movimento, do vir a ser das coisas e dos seres, um oleiro é capaz de transformar o barro em um objeto útil ou decorativo, enquanto Parmênides acredita existir algo de absoluto e essencial em todas os seres e coisas, o que levou a dizer que a verdade é aquilo que é que não pode deixar de ser, na tentativa de conciliar estas duas teorias, Platão delegou a teoria heraclitiana do vir a ser ao mundo sensível, perceptível pelos sentidos, e a teoria de Parmênides ao mundo inteligível, das ideias, perceptível pela alma. O mundo inteligível é o mundo real, das coisas que são e não podem deixar de ser. É interessante notar que desde dos gregos, ou seja, desde do nascimento da filosofia, a mesma está vinculada ao sentido e reestruturação do real, afinal, o que é a realidade. Para Platão a filosofia nasce do espanto, para Aristóteles, da admiração, para Descartes, da dúvida e para Kant de um certo desconforto moral, na verdade, podemos perceber nuances de um mesmo movimento, pois o distanciamento das coisas e dos seres só é possível mediante uma postura de espanto e de contemplação desinteressa, a busca pelo sentido da existência nos leva de encontro a nossa impotência perante o mundo das contingências e das necessidades. Deste distanciamento nasce uma postura reflexiva, de não identificação com o ser das coisas, pois a identificação e adequação do ser aos objetos nada mais é do que ausência de reflexão sobre o verdadeiro sentido da vida. O seres humanos podem ser medidos segundo sua capacidade de se espantarem perante o simples ato de existir, pois a dimensão interior se abre perante alguns pressupostos, entre eles o da dúvida e desconfiança perante aquilo que convencionou-se chamar de realidade. A realidade das coisas e dos seres se apresenta quando somos capazes de silenciar a nossa própria voz, pois passamos a ouvir a "voz" de todas as essências. O distanciamento e o estranhamento inicial que nos levam a admissão de nossa impotência e fraqueza, faz com que busquemos novos elementos para reconstruir novas reflexões, pois a verdade não se apresenta pronta, única e indubitável, ao contrário, parece desvelar-se e apresentar novas problematizações a partir do momento em que nos permitimos ir ao seu encontro, não existe uma história fixa e absoluta do ser, o ser do ente é abstrato, é impossível captar o outro em sua inteireza, pois desconhecemos aspectos essenciais de nós mesmos, só posso me apresentar e me reconhecer enquanto aqui agora imanente e eternizado pela minha própria finitude e imperfeição, a limitação imposta pelos sentidos deve ser superada pela abertura consciente de uma nova percepção, transcender estes limites nos leva a uma nova compreensão e sentido das coisas, a autenticidade passa a ser uma busca continua e permanente, pois somos únicos. A criatividade e o grau de originalidade que por muitos é considerado um mistério, para outros se resume numa pura e simples imitação (Aristóteles), criar é reconstruir o que já foi construído e apresenta-lo de uma nova maneira, é como se revestíssemos a mesma ideia mas com roupagens novas, o próprio Albert Einstein nos precaveu, se alguém quer se manter na posição de gênio nunca ouse revelar as suas fontes. É preciso muito esforço e muita coragem para se ter uma vida destinada a busca pela verdade, pois romper com os grilhões impostos pela grande maioria é desafiador, mas com certeza compensa.    

0 comentários:

Total de visualizações de página

GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

Blog Archive

Posts mais Lidos e Visualizados

Frases de Albert Einstein

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

Páginas

Translate