O choro melancólico dos
mortos que sentem sua sede de sangue crescer assustadoramente me compele a
escrever sobre assuntos mórbidos e tétricos, num primeiro momento, os mortos
representam os valores que continuamente vão sendo esquecidos, até mesmo os valores
conferidos ao comportamento de alta estirpe, vão sendo diluídos perante o
imediatismo fugaz, a capacidade de captar os sinais emitidos pelo outro vão
sendo desmembrados pelas novas tecnologias que nos condicionam a desviar o
olhar, a evitar o contato, a arte do encontro, do desvelar-se, do abrir-se com,
está sendo paulatinamente substituída por uma valorização da persona enquanto
sujeito que se representa a si mesmo a partir de sua própria fragmentação,
oculta-se a inteireza e reduz a beleza do ser à construção de imagens
previamente selecionadas para servirem como parâmetros dos seus gostos e
atitudes, as fotos expostas no face, os gostos estéticos e nossos atos, estão
sendo resumidos em atos fotografados e logo em seguida expostos, a cultura da
exposição, se revela portadora da auto miopia coletiva que ignora os aspectos
mais sombrios e insanos da nossa mente, as doenças psíquicas ocultam-se na
febril necessidade de se estar conectado ao novo, de ver a construção de sua
personalidade atrelada ao moderno, ao cool, somente como estereótipo, como se
um bocado de barba e um óculos fundo de garrafa já fosse o suficiente para
assumir os ares de saber que exige a sociedade pré-fabricada, os poemas são
eleitos como mercadorias a serem comercializadas no palco da teatralidade
social, com lugares e pronuncias esperadas, a inspiração do momento cede lugar
à pré fabricação de si mesmo e de sua necessidade de se mostrar detentor de um
conhecimento absoluto mas totalmente destituído de valor sólido, concreto, nas
miragens virtuais, constroem-se pontes de simplificações, de adereços, o
conteúdo estético aprovado é o valor conferido aquele que se manifesta
abertamente defensor do futuro e da permanência das novidades, a novidade é um
segundo da aprovação do suposto brilho alheio, a personalidade sendo
fragmentada, não resgata a sua memória e sua raízes vão sendo esquecidas na
tentativa de preservar a auto imagem moderna e imaculada, os "velhos
acontecimentos" vão sendo arquivados nos porões de algum pub qualquer,
enquanto as máquinas se tornam o viés de comprometimento com o novo, o lirismo
bucólico de nossos ancestrais respiram a margem desta nova natureza humana, e
qualquer contemplação e visão diferenciada já tende a ser interpretada como
devaneios de um sujeito com tendências proféticas e messiânicas, repousa a
verdade em algum site ou canal de comunicação, cabe aqueles que ainda prezam
olhar nos olhos estender sua presença para além do olhar mórbido e perdido do
outro.
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