Possuo duas escolhas.
Escrever sobre os últimos acontecimentos policiais e políticos, tanto no meio
empresarial ou jurídico, relatando escândalos e vazamentos, denúncias e
delações, ou me manter em silêncio, numa postura de indiferença e incredulidade
quanto à justiça e às possíveis mudanças e destinos da nação.
As cifras, assim como as
delações, chocam e impressionam; os áudios assustam e refletem, além da relação
promíscua entre o meio político e empresarial, a iminente crise dos valores
éticos e morais. Tanto as denúncias, como os flagrantes transcendem as questões
ideológicas e partidárias revelando, mais uma vez, a fragilidade dos três
poderes: executivo, legislativo e judiciário.
O Brasil precisa ser
refeito, revisto e redescoberto. O povo, desacreditado, ainda assim é
facilmente conduzido e manipulado por interesses que escapam ao seu
entendimento e compreensão. Longe das discussões políticas e econômicas, nem
sequer ousam imaginar os efeitos a médio e longo prazo das eventuais medidas
votadas e aprovadas para lhes "favorecer" e "beneficiar".
O engodo supremo é vendido
nas coloridas propagandas do agronegócio. Querem transformar o país num vasto
pasto, em que pesem os lucros gerados por bois, vacas e soja. Seria
interessante se o povo, ao invés de protestar uma vez por mês nas ruas,
começasse a se conscientizar que a verdadeira revolução se faz em casa, na
escolha do prato, da alimentação e do consumo.
Deveríamos incentivar as
pessoas a parar de consumir produtos derivados de empresas corruptas e
desonestas, que submetem seus funcionários a um regime de trabalho cruel e
subumano, de servilismo e escravidão. Um trabalho mecânico e repetitivo, que
não favorece o desenvolvimento de suas faculdades, com elevada carga horária e
baixos salários, deve ser rechaçado e banido. Isto não é um favor, é tortura,
covardia e exploração. Que o povo não aceite as agruras do cotidiano como algo
normal e positivo, destinado aos eleitos do céu, acreditando ingenuamente que
para serem salvos e redimidos perante a Deus e a sua própria consciência,
necessitem passar pelas mais diversas provações de dor, miséria e sofrimento.
Quando os responsáveis por
protegerem o Estado, começarem a se conscientizar que são e foram, durante
muito tempo, usados para atender e defender os interesses dos verdadeiros
bandidos e tiranos, o mundo nunca mais será o mesmo. O Estado é opressor por
natureza, e tudo está bem, desde que a fatura do cartão de crédito, assim como
os impostos, estejam sendo pagos. Não nos comove a dor e sofrimento de milhares
que jazem na miséria, principalmente depois de termos abrigado, de forma
confortável e macia, a verdade dentro de nossa barriga.
Querer é poder, que se pesem
as possíveis abstrações e considerações. Cada qual é responsável pela vida que
leva. E assim somos levados a acreditar que milhares de miseráveis se fazem de
vítimas, de pobres coitados, como se a vontade fosse o suficiente para fazer
com que suas vidas saíam da penumbra e se revelem na luz. Os opressores, em sua
grande maioria, estudaram nas melhores escolas, frequentaram os melhores
lugares e estiveram com as melhores pessoas adquirindo, desta forma, belos
hábitos e exemplos. Apesar de dependerem financeiramente dos pais até a idade
de concluírem seus estudos superiores, ainda assim, são os primeiros a defender
este tipo de pensamento.
Aos pobres, cabe o mortal
pecado, de serem o que são, de terem nascido num meio inferior e inadequado ao
aprendizado e ao processo de inserção social. Em função disso, os partidos que
militam na esquerda, que defendem os interesses sociais, devem perecer sob o
rugido do capital e da força do mercado. Para isso, um grande arsenal deve ser
utilizado, desde os meios de comunicação de massa, que fraudam e moldam
notícias ao seu bel prazer, ao aparato bélico e militar, utilizado para oprimir
e dispersar, a horda de manifestantes, desordeiros e desocupados, que sem
nenhum pudor, querem implantar o caos e a anarquia.
Enquanto isso, no senado, um
membro admite a possibilidade de assassinar alguém que possa vir delatá-lo.
Nesta altura, toda e qualquer hipótese de atentado contra Teori e Eduardo
Campos aparece como mais uma pueril e ilusória teoria da conspiração, cujos
dados são habilmente manipulados por débeis lunáticos, cujas mentes fracas e
férteis ousam criar mundos fictícios e imaginários. Também seria um erro supor
e concluir que exista qualquer tipo de vínculo ou relação entre o aeroporto em
Cláudio e o helicóptero encontrado com 445 kg de cocaína, furtado da família
Perrela, a qual por mais uma destas misteriosas ironias do destino teve
encontrada em sua residência a mala de propina recebida da JBS por Aécio Neves.
Ou buscamos aprofundar
nossos conhecimentos na tentativa de compreender os verdadeiros motivos e
interesses que regem o mundo dos negócios e da política, ou procuramos esquecer
e anestesiar a nossa falta de interesse político nos chafurdando na ignorância
e na alienação. Não existem muitas opções.