Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!



A cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro sempre esteve preocupada em perpetuar seu poder através de um laço consanguíneo e familiar, cuja estrutura pudesse ser aceita e mantida sem nenhum tipo de questionamento ou constrangimento jurídico e legal, ético e moral. Forjado e estabelecido por uma complexa teia social, cujos fios são sutilmente entrelaçados, sua existência e sobrevivência durante todos estes anos se deve a sua perspicaz astúcia na arte de manipular dados, cifras e consciências, além de sua alta aceitação social entre as pessoas de baixo estudo e renda. Seus acordos, no mais das vezes, são políticos e diplomáticos, sem uso da violência, e vão desde o pagamento de propina a policiais até desembargadores da suprema corte. Assim como na máfia italiana, as brigas e intrigas mais sérias e sangrentas se dão no seio das próprias famílias que guerreiam entre si na tentativa de aumentar e expandir seu poder e império. Os capos do estado do Rio de Janeiro durante muitos anos, principalmente no regime militar quando eram responsáveis por nutrir e acomodar vários coronéis e generais em sua folha de pagamento, não tinham experienciado a concorrência com membros e representantes legais do estado: a polícia carioca. Se por um lado o tráfico de drogas é responsável por gerir e gerar, mensalmente, números que ultrapassam a casa dos seis dígitos, por outro, o bicho, além de ser uma atividade ilícita altamente lucrativa e rentável, permite ao contraventor ter uma vida social ativa e invejável, com direito a camarote nas principais escolas de samba e presença constante nos melhores hotéis, restaurantes e boates da cidade. Apesar de viverem na ilegalidade, de forma clandestina e mafiosa, são defendidos e aclamados, temidos e respeitados nas periferias e subúrbios do Rio. O povo brasileiro absorveu o jogo de tal forma, que não seria errôneo dizer que já se tornou um problema cultural, muito além do social. O jogo do bicho atravessa gerações e o dinheiro é facilmente lavado na compra de fazendas e gado, motéis e restaurantes, frotas de táxi até de lanchas e aviões. A justiça brasileira faz vista grossa e sempre que surge um policial ou juiz honesto, o mesmo passa a ser rigorosamente observado. Se possui algum desvio de comportamento que possa comprometer a sua reputação o mesmo é utilizado como forma de suborno e ameaça. Quando não, tem decretada sua morte. O Brasil definitivamente não é um país para iniciantes. A receita do bicho além de movimentar milhões é responsável pelo acréscimo salarial de vários representantes do estado que enxergam na corrupção um excelente meio de proporcionar um alto estilo de vida, bem acima dos padrões, para seus entes queridos e familiares. Para quem passa a vida defendendo os interesses de quem está rendido confortável no sofá de sua mansão por um salário irrisório, não é difícil ceder a esta tentação. Mas cabe aos contraventores a defesa do seu espaço e território, e para isso, necessitam de pessoas, armas e dinheiro. Quando um capo morre, geralmente outro assume, e este acréscimo de poder concedido a um membro, além de despertar a inveja e cobiça dos consorciados, passa a fomentar o ódio e as conspirações. É muito comum, nestes momentos, os chefes se aproveitarem da fragilidade dos familiares e proporem concessões em regime de benefício mútuo ou simplesmente se atacarem. Quando isto acontece, florescem cadáveres pelas ruas e becos, esquinas e vielas do Rio de Janeiro. O poder do bicho é grande e não deve ser subestimado. Em sua intrincada estrutura existem matadores e advogados, contadores e magistrados, policiais e o próprio estado, na figura de políticos: ministros, governadores, senadores e deputados, etc. Vários tiveram sua campanha financiada por famigerados bicheiros e ninguém estima a quê preço. A contravenção no Rio é regra e nunca a exceção.

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GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

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Frases de Albert Einstein

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

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