seu sucesso pessoal
incomoda o meu fracasso
não invejo o que tem
mas sim o sorriso fácil
muitos querem os frutos
mas sem trabalho árduo
é impossível colher
se não tiver plantado
vagabundo é mato
só vê um lado da história
não contabiliza as perdas
mas visa nossa vitória
meus dias de glória
por Deus foram contados
também honro o sacrifício
para no fim ser lembrado
quem me vê na foto
de rolê tomando brisa
se esquece que fui fênix
renasci das cinzas
um dia me deparei
com a dura realidade
foi quando despertei
acordei para a verdade
é necessário humildade
para admitir os erros
e não se engrandecer
nem diante dos acertos
bem vindo ao recomeço
de uma longa e bela estrada
se prepare com cautela
estratégia da caminhada
milhares de pessoas
jazem na ignorância
na era dos extremos
respirando intolerância
meus sonhos de criança
no chão despedaçado
esperava ser feliz
despertei do outro lado
que mundo bizarro
pra quê tanta informação
na ausência de saber
apelo pra distração
neste mundo de ilusão
vivemos de aparência
ninguém se arrepende pelo ato
mas sim pelas consequências
onde está a inocência
me diz quem foi enganado
quantos se fazem de vítimas
sabendo ser culpados
não estou preocupado
em sanar a injustiça
se Deus nos deu um fardo
da cobra nos deu malícia
Roubaram nossos sonhos
Disseminaram fracassos
arquitetos do universo
controlando nossos atos
ousadia de quem pensa
além da dualidade
se sou bem não sou mal
busco fazer minha parte
se é direita é coxinha
se é esquerda é petralha
e assim nos dividimos
caímos numa cilada
retiraram o prazer
de todo aprendizado
avaliam o conteúdo
estudam por resultado
se tivessem sido
de fato alfabetizados
devorariam vários livros
como acendem baseados
repensariam seus atos
talvez voltassem pra escola
mas procurariam em si mesmos
a chave de muitas respostas
sem pensar nas notas
no castigo aplicado
que importa ser o primeiro
ou último classificado
A cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro sempre esteve preocupada em perpetuar seu poder através de um laço consanguíneo e familiar, cuja estrutura pudesse ser aceita e mantida sem nenhum tipo de questionamento ou constrangimento jurídico e legal, ético e moral. Forjado e estabelecido por uma complexa teia social, cujos fios são sutilmente entrelaçados, sua existência e sobrevivência durante todos estes anos se deve a sua perspicaz astúcia na arte de manipular dados, cifras e consciências, além de sua alta aceitação social entre as pessoas de baixo estudo e renda. Seus acordos, no mais das vezes, são políticos e diplomáticos, sem uso da violência, e vão desde o pagamento de propina a policiais até desembargadores da suprema corte. Assim como na máfia italiana, as brigas e intrigas mais sérias e sangrentas se dão no seio das próprias famílias que guerreiam entre si na tentativa de aumentar e expandir seu poder e império. Os capos do estado do Rio de Janeiro durante muitos anos, principalmente no regime militar quando eram responsáveis por nutrir e acomodar vários coronéis e generais em sua folha de pagamento, não tinham experienciado a concorrência com membros e representantes legais do estado: a polícia carioca. Se por um lado o tráfico de drogas é responsável por gerir e gerar, mensalmente, números que ultrapassam a casa dos seis dígitos, por outro, o bicho, além de ser uma atividade ilícita altamente lucrativa e rentável, permite ao contraventor ter uma vida social ativa e invejável, com direito a camarote nas principais escolas de samba e presença constante nos melhores hotéis, restaurantes e boates da cidade. Apesar de viverem na ilegalidade, de forma clandestina e mafiosa, são defendidos e aclamados, temidos e respeitados nas periferias e subúrbios do Rio. O povo brasileiro absorveu o jogo de tal forma, que não seria errôneo dizer que já se tornou um problema cultural, muito além do social. O jogo do bicho atravessa gerações e o dinheiro é facilmente lavado na compra de fazendas e gado, motéis e restaurantes, frotas de táxi até de lanchas e aviões. A justiça brasileira faz vista grossa e sempre que surge um policial ou juiz honesto, o mesmo passa a ser rigorosamente observado. Se possui algum desvio de comportamento que possa comprometer a sua reputação o mesmo é utilizado como forma de suborno e ameaça. Quando não, tem decretada sua morte. O Brasil definitivamente não é um país para iniciantes. A receita do bicho além de movimentar milhões é responsável pelo acréscimo salarial de vários representantes do estado que enxergam na corrupção um excelente meio de proporcionar um alto estilo de vida, bem acima dos padrões, para seus entes queridos e familiares. Para quem passa a vida defendendo os interesses de quem está rendido confortável no sofá de sua mansão por um salário irrisório, não é difícil ceder a esta tentação. Mas cabe aos contraventores a defesa do seu espaço e território, e para isso, necessitam de pessoas, armas e dinheiro. Quando um capo morre, geralmente outro assume, e este acréscimo de poder concedido a um membro, além de despertar a inveja e cobiça dos consorciados, passa a fomentar o ódio e as conspirações. É muito comum, nestes momentos, os chefes se aproveitarem da fragilidade dos familiares e proporem concessões em regime de benefício mútuo ou simplesmente se atacarem. Quando isto acontece, florescem cadáveres pelas ruas e becos, esquinas e vielas do Rio de Janeiro. O poder do bicho é grande e não deve ser subestimado. Em sua intrincada estrutura existem matadores e advogados, contadores e magistrados, policiais e o próprio estado, na figura de políticos: ministros, governadores, senadores e deputados, etc. Vários tiveram sua campanha financiada por famigerados bicheiros e ninguém estima a quê preço. A contravenção no Rio é regra e nunca a exceção.