Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!


Infinita parecia a madrugada deste dia! Dispersas pessoa...s transitavam em meio a espectros zombeteiros que vampirizavam-lhe a energia vital! Um forte cheiro de fumo saia pelas portas do pequeno recinto que aparentemente estava vazio. Na porta um cartaz denunciava tratar de algum comércio. Se mostrava incapaz de abrigar muitas pessoas, no entanto bastava descer as primeiras escadas e logo nos depararíamos com um grupo movido pelo etílico sabor embriagante que as faziam dançar, amar, sonhar quem sabe... Talvez aquelas pessoas ignorassem a lânguida vertigem que sentem aqueles que através de uma postura sincera diante da vida possuem a capacidade de enxergar além da efêmera aparência! No primeiro dia que pisamos nesta terra de ninguém sentimos uma profunda admiração pela sua arquitetura, pela sua história, pelos mártires aleijados pela doença e pelo esquartejamento, pelos poetas apaixonados por suas Marílias, pelo resplendor que fulgura nos coqueiros de Santa Efigênia. No entanto estes fatos me levaram a entender, num súbito instante de contemplação extática, o vazio que muitos corações assim como o meu abrigava! Devo admitir que Ouro Preto gritava dentro de mim através da voz de Bernardo Guimarães:" quem do presente aos brados não acorda, também glórias passadas não recorda". A neblina banhava-me a face pálida e surpresa, negligenciava que a cidade era a extensão de mim mesmo e assim como em frente a um espelho me envergonhei por vê-la nua! Aspectos repugnantes da história afloravam de forma natural e espontânea, no decorrer de minha jornada presenciei a dor dos escravos e compreendi a lúgubre fugacidade do tempo e deste modo material cuja manifestação é dependente de nosso espírito! Enfim, percebi que realmente havia nascido à 10.000 anos atrás. Cores superpostas nos tetos adornados de minha pensante cabeça refletia um céu de indagações e desejos: o que as pedras deste porão querem me dizer? Parece balbuciar o sofrimento inenarrável de um negro escravo que com mãos de ferro e costas de aço construiu esta muralha infernal que anseia por ser lida e decifrada! Vejo em sua superfície áspera e fria visíveis marcas de um antigo, porém conhecido ancestral, cujo instinto de dominação aliado a sua desmedida ambição exerceu aqui, nas terras ameríndias, seu brutal apogeu. Imagens translúcidas de um passado imortal e irremovível no tempo e no espaço, vive na retina dos que possuem olhos para ver e ouvidos para ouvir a sabedoria peculiar e profana dos africanos e dos índios que subiam, e hoje invisíveis ainda sobem, esta ladeira que nasceu num sonho de rei Chico! Alforriados com bravura e destemor se viam constrangidos a ceder sua força em troca da liberdade!
Quantas vezes a Noite não derramou copiosas lágrimas na fronte da mãe negra que se via possuída por uma força que lhe permitia cuidar do filho branco, sabendo que uns de seus filhos fora vendido enquanto outros permaneciam do outro lado do oceano. Carregava docemente em seu colo o inocente bebê branco que num futuro bem próximo se transformaria em seu aprisionador e veria suas filhas tão somente como uma fonte inesgotável de prazer e perversões. Os negros daquela época nasciam póstumos assim como o brilho reticente, no longínquo horizonte, da luz das estrelas que também nascem já mortas pela ilusão. Fitava admirado este cortejo solene e assustador de estrelas e de escravos, cuja história vagarosamente penetrava em minha alma fazendo com que me avizinha-se mais do meu coração do que de minha mente, pois se ser forte é não ter compaixão dos pequenos e humildes, preferível ser um fraco que sente a dor do outro do que um forte insensível e impermeável por uma intelectualidade fria e racionalista que assim como a história nos relata só serviu como instrumento passivo de uma vontade destituída de amor. Avizinhando-me das estrelas e dos escravos senti-me reconfortado e novamente reconciliado com o universo, convencido de que existe algo além desta cadavérica dimensão umbralina. 

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GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

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Frases de Albert Einstein

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

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