das noites frias
em que a cachaça nos esquenta
embriago com o amor
o licor que nos sustenta
em uma roda de samba
eu esqueço dos problemas
só bamba
desce uma
estupidamente
gelada
eis o nosso esquema
um maço de cigarro fechado
quer um trago?
eu lhe ofereço um cigarro
sou fraco
mas o vício
é meu artíficio
necessário
tabaco, cachaça, limão, feijoada
a poesia é uma luxúria refinada
peço a humildade,
para nós brasileiros
fomos nascidos e criados
em solo hospitaleiro
quem são nossos heróis?
o malandro da macumba,
o camisa dez do time adversário
o ídolo musical pré fabricado
eu sou brasileiro,
explorado nato
sou um capataz
em forma de gente
disfarçado
um anjo alado
com asas decaídas
sem moral
para reinvidicar
a minha saída
Dona Maria,
a senhora
é o cara
eu sou
latino
americano
passam-se os anos
mas meu aniversário
continua sendo
no mesmo mês
sou brasileiro
no meu verso
trabalho a dor
vem aqui,
vem ver
a realidade
são malabaristas,
diaristas,
santos operários
em suas fábricas
somos decentes
sem educação,
se por isso
sub entende-se
erudição
não estamos matriculados
em nenhuma universidade
mas o açúcar e feijão do vizinho
nos ensinaram a humildade
sobretudo o valor invisível
e metafísico da amizade
mais vale um samba
uma roda de bamba
a nossa efêmera
e fútil alegria
o resto é fantasia
elite suicida
seu veneno
não é eficaz
contra o tempo
por isso temo
e blasfemo
o seu momento...