
A resposta é complexa e envolve diversos fatores, entre eles destaco os de ordem social, psicológica, econômica e cultural. Vivemos numa sociedade individualista que nos incita, desde a infância, a sermos os primeiros e os melhores. Não nos incita a sermos melhores para superarmos as nossas falhas, deficiências e limitações mas sim para superarmos o outro. Numa sociedade, extremamente competitiva, cujos valores individuais se sobrepõem ao coletivo, não é difícil imaginar o nascimento e surgimento de milhões de pessoas narcisistas e egocêntricas que se preocupam somente com seu próprio umbigo. O egoísmo é a raiz de todos os males. Enquanto não conseguimos compreender que o outro é extensão de nós mesmos, e que necessita da mesma dose de atenção e cuidados, não iremos empreender nenhuma mudança num nível mais profundo de consciência e percepção. Ainda se faz presente em nossa sociedade uma mentalidade arcaica e medieval que nos diz que "bandido bom, é bandido morto" , "bandido tem que morrer", "lugar de bandido é na cadeia", enfim, uma série de afirmações que reforçam o preconceito, o ódio e a exclusão. Sou totalmente a favor do julgamento dos atos cometidos por todo e qualquer ser humano, mas radicalmente contra qualquer juízo emitido sobre a pessoa. Acredito, piamente, na recuperação do ser humano, e que toda pessoa possui o direito de se arrepender e aprender com os próprios erros. Contudo, é extremamente difícil imaginar e acreditar, que uma pessoa irá se recuperar num ambiente que, além de não lhe facultar a possibilidade de se auto conhecer (trabalhando seus pensamentos, sentimentos e ações) retira sua identidade e lhe confere um tratamento desumano, indigno de qualquer animal. Os presídios brasileiros precisam passar por uma reforma e seu modelo precisa ser repensado tendo em vista a real e verdadeira recuperação do ser humano. Um erro não justifica o outro. O modelo ofertado pelo sistema só serve para alimentar e aumentar o ódio e a revolta. O sentenciado errou, e precisa sim, ser mantido sob um regime de ordem, regras e disciplina, porém isto não serve como justificativa para qualquer tipo de abuso que venha a violar seus direitos resguardados em forma de lei. Qual exemplo e mensagem o sentenciado irá colher se o próprio Estado é incapaz de atender e realizar as obrigações impostas por si mesmo?
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