Minhas lisas lentes lesadas
pressentem
o luto imanente
ao limite do mundo,
no local da labuta
leio na lacuna verbal
o conselho impresso
nos classificados do jornal
Meu lar: labirinto interno indecifrável
Lento sussurro,
licito o céu
atravesso os mundos
e em todos
vejo o enfático destino cruel
morte: terra, pó, verme
No calendário,
dia de finados
um fino trato tardio
no feriado
Na beleza do cheiro flores
Na ternura dos rostos lágrimas
Na lembrança dos corpos temores
Deus no céu se embriaga
Na presença de sua criação
Para a alma basta
um sopro de consolação
eterno sofrimento infindável
irrealizável desejo imediato
viver é ver ao avesso
o que existe
por de trás dos túmulos
vidas, arrepios, murmúrios
chão de lamentação,
degusto sua dor
saboreio sua agonia
experimento com malícia
a textura grelhada de sua carne
algoz que na noite expia
seus sonhos dilacerados
sou um verme
na sua mente
implantado
sou um cadáver
a andar vivo
na luz do dia
sou a quimera
recitada pelo poeta
hoje tudo é fúnebre e cadavérico
neste lindo florido cemitério
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