Vivemos em uma época marcada
pelos extremos e pela intolerância, em todos os níveis, sentidos e
aspectos: políticos, sociais, raciais, sexuais e religiosos. Se você
defende e sustenta determinado ponto de vista, com
unhas e dentes, corre o
sério risco de ser crucificado e apedrejado pelas mãos da covardia,
do medo e da ignorância.
A não aceitação de um mundo
plural, múltiplo e diverso faz com que as pessoas se aferrem e se
apeguem demasiado ao seu modo único e exclusivo de agir, sentir e
pensar. Não somos seres padronizados, criados com o mesmo código
genético e portadores dos mesmos princípios e valores, nem mesmo os
éticos e morais.
No campo político, as
opiniões são emitidas como se estivéssemos disputando uma
acalorada partida de futebol, em que cada qual torce e defende de
forma apaixonada o seu time do coração. Ataques e ofensas são
remetidos e lançados com a mesma fúria e intensidade
de uma torcida
organizada aos integrantes e membros do time e torcida adversária.
Não existe nenhum apelo legítimo à razão e a paixão conduz, de
forma cega e irrefletida, os discursos e discussões, que levados às
últimas consequências geram brigas, intrigas e inimizades, basta
analisar o número de pessoas excluídas de nosso Facebook
devido ao seu posicionamento político e ideológico.
No contexto social, por razões
históricas, políticas e econômicas existe um abismo intransponível
entre os mais ricos e os mais pobres, sendo os primeiros contemplados
com os melhores serviços e atendimentos, desde hotéis a
restaurantes até hospitais e escolas. Aos segundos, cabem se
contentar com a velha e carcomida afirmação, "querer é poder"
que lança ao indivíduo toda responsabilidade pelo seu insucesso e
fracasso. Não seria exagero dizer que um dos verdadeiros motivos
para o golpe foi a presença da periferia nos shopping, universidades
e aeroportos.
A questão racial é ainda
mais sutil e velada, até porque, durante muitos anos, o Brasil foi
considerado um país cordial e alegre, despido de intolerância e
preconceito. Esta imagem e conceito vem sendo paulatinamente
desconstruída, desmentida e desmitificada: ainda faltam muitos
aspectos para serem revistos, discutidos e sanados. A quota é medida
paliativa e provisória, cabe aos agentes públicos ofertarem um
ensino público de alto nível e qualidade, principalmente de base,
nos primeiros anos do pré escolar.
Na luta pela igualdade de
direitos entre homens e mulheres, a teoria dos gêneros nos ajuda a
visualizar os prejuízos e danos causados por uma sociedade
milenarmente machista e patriarcal. Os movimentos feministas e LGBT
avançam na conquista de espaços e direitos, mas suas causas,
infelizmente se transformaram em bandeiras políticas levantadas
majoritariamente por partidos de esquerda. A direita, por sua vez,
constituída pela famigerada bancada BBB, do boi, da bíblia e da
bala, nega e rejeita o apelo emitido por determinados grupos, que
injustamente rotulam de "minoria".
Na esfera religiosa, ao
contrário do que poderíamos supor ou imaginar, as discussões são
acirradas e movidas pelo ímpeto da fé e das circunstâncias. Num
país considerado cristão, seria comum esperar uma postura de maior
amor, respeito e
compreensão por parte
das pessoas, principalmente daquelas que assim se denominam. A
intolerância religiosa transforma qualquer conversa em disputa, e
qualquer diferença em discussão. A tensão é gerada a partir do
momento em que quero lhe convencer de que a minha religião é melhor
que a sua, de que o meu Deus é maior que o seu, de que a minha
religião é a única detentora da verdade e capaz de garantir a
salvação.
Os motivos que nos levam a
separar, denegrir e difamar as escolhas e preferências alheias,
quando não determinadas pelo puro e simples preconceito, se
encontram no nosso baixo nível de aceitação ao novo, ao outro, ao
diferente. Rever nossos conceitos e refletir sobre certas posturas e
opiniões é um convite diário necessário ao reequilíbrio, ao bom
senso e ao convívio civilizado.
Não temos o direito de julgar
ou condenar as opções existenciais
e pessoais de cada ser.
Vivemos em uma sociedade livre e democrática, aberta à pluralidade
de ideias, conceitos e opiniões, à diversidade de credos, gêneros
e partidos. Nenhum ser humano deve se arrogar o papel de juiz, nem se
sentir vítima passiva de preconceitos e abusos físicos ou verbais,
psicológicos ou sociais.
A falta de entendimento e
consenso entre as pessoas tem gerado um ambiente negativo de
desrespeito, desavenças e exclusão. A discussão que deveria
permanecer no campo das ideias, se desvia para o âmbito particular e
pessoal, isso quando não parte para a violência física e agressão.