A dependência química é
uma doença progressiva, incurável e de determinação fatal que afeta o corpo, a
mente e o espírito do usuário atingindo todas as áreas da sua vida: social,
familiar e profissional, interferindo nas relações consigo, com o outro e com
Deus. Apesar da complexidade do assunto, tentarei resumir e apresentar os
principais aspectos e sintomas da doença.
O caráter progressivo
da doença pode ser facilmente identificado no gradativo aumento do uso e da
dosagem. O dependente químico, à medida que se aprofunda no uso de drogas,
apresenta uma grande tolerância aos seus efeitos, o que o leva a usar doses
cada vez mais elevadas para poder obter o mesmo efeito inicial. O perigo e
risco de uma overdose é real e sempre se faz presente. O uso, assim como o
próprio dependente, pode ser comparado a uma bomba relógio, com a desvantagem
de todos ignorarem a hora e o momento que a mesma irá explodir.
É uma doença incurável, porém
tratável e pode ser controlada assim como a diabetes. Os tratamentos, assim
como os motivos que levam as pessoas a interromper o uso são inúmeros, e variam
de indivíduo para indivíduo. Muitos pararam ao conhecer o amor de sua vida, ao
adentrarem um templo religioso, ao se consultarem com psicólogos e psiquiatras
ou simplesmente por perceberem que algo não estava “certo” em suas vidas. A maioria, porém, só realiza o pedido de
ajuda quando atinge o fundo do poço.
É uma doença de
determinação fatal, isto é, seu uso contínuo, ininterrupto e prolongado pode
ocasionar a morte. Além da overdose, temos acidentes de trânsito, envolvimento
com traficantes e policiais, roubos e assaltos, brigas e discussões, delírios e
surtos, rompantes e paranoias que levam o usuário a cometer os mais diversos
tipos de atos e violência, contra si e o outro. É comum, nos recintos
destinados ao tratamento dos usuários (grupos e comunidades terapêuticas) a
seguinte afirmação: só existem três destinos para o dependente químico na
ativa, os famosos “3 c”: clínica, cadeia e cemitério.
O aspecto físico da
doença é a compulsão, uma vez que se tenha iniciado o uso, o indivíduo apresenta
dificuldades em parar. Isso acarreta um inevitável e visível desgaste físico:
perda considerável de peso, presença de olheiras e mau funcionamento dos
órgãos, desde o sistema circulatório ao respiratório; do nervoso ao digestivo.
Todos os órgãos são afetados, a médio e longo prazo, apresentando lesões e
danos irreversíveis, como no caso do cérebro e dos neurônios. Pode-se afirmar,
com plena convicção, que o corpo do usuário é alterado de forma profunda e
permanente: mesmo depois de ter interrompido o uso, as sequelas serão sentidas
e mantidas pelo resto da vida.
O aspecto mental da
doença é a obsessão, o intenso desejo de usar. Os pensamentos, assim como a
vida, estão voltados para o uso, para os meios e formas de obter a todo custo a
primeira dose de sua droga de preferência. Pensamento gera sentimento que gera
ação. É necessário mudar a matriz mental, fazendo com que o usuário se
conscientize, além da sua doença, da importância de sua reforma íntima e moral.
Para isso, faz-se urgente
a adoção de três princípios espirituais básicos: mente aberta, boa vontade e
honestidade. Mente aberta para poder apreender os princípios básicos da
recuperação, pois sabemos que é impossível enxertar uma ideia nova numa mente
fechada. Boa vontade para aplicar os princípios apreendidos em todas as áreas
de sua vida. E o principal, honestidade para poder falar de si mesmo sem
restrição, reconhecendo sentimentos, nomeando emoções e se confrontando quando
necessário. Somente através do autoconhecimento o dependente irá se avizinhar
da sabedoria e da maturidade.
O aspecto espiritual da
doença, ao contrário do que muitos místicos, exotéricos e religiosos poderiam
supor, não está ligado ao lado oculto e invisível da existência, mas
diretamente relacionado aos hábitos mantidos durante sua vida, as pessoas e
lugares de sua convivência. É necessário que o dependente evite e se afaste de
pessoas, hábitos e lugares, caso queira se manter firme em seu propósito e decisão
de interromper o uso e permanecer limpo.
Para finalizar, gostaria
de convidar todos os lopoldinenses para conhecer o Grupo Levanta de
Novo, que apoia e auxilia os dependentes químicos e seus familiares. Localizado
na rua do Sapo, Bairro Quinta Residência, o grupo oferece reuniões fechadas
(somente para dependentes) aos sábados e segundas, e abertas para o público na
quinta, todas às sete e meia da noite.
Não existe melhor remédio
para um adicto do que o próprio adicto em recuperação. A busca por um grupo de
mútua ajuda é um dos tratamentos mais eficazes e seguros no controle da
dependência, sendo a frequência regular e contínua o melhor antídoto contra o
risco de quedas e recaídas. Fica o convite!