Depois de algum tempo perdido, de uma infindável tristeza, de um temporal de lágrimas derramadas no sensível solo da alma, a consciência debruça-se, instantânea, sobre si mesma, procurando respostas, revendo conceitos, alterando rotas, buscando alicerçar-se em novos fundamentos, criando novos paradigmas...
Pessoas que cruzam nossos caminhos, para o bem e para o mal, como se não tivessemos outra escolha, senão aceitar de imediato nossa limitada condição... as imagens oníricas se diluem, o entusiamo de antes não persevera, instala-se novamente uma crise, e os músculos da alma se enfraquecem, tornando sua cor opaca, roubando sua vivacidade sob a tônica do pessimismo reinante...alguns buscam no suícidio a saída, outros vagam pelas ruas, estradas, calçadas, solitários no pensar e no sentir, indiferentes ao frenético movimento das renovações apregoadas pela tecnologia e pela sociedade midiática... Enormes aparelhos televisivos que descortinam, todos os dias, a mesma programação, disseminando a rotina como algo normal, estável, seguro... todos buscam segurança, alguns através de um concurso público, federal, estadual, outros através de camêras e sensores, outros guardam seus verdes papéis nos cofres e passa ano após anos e vivenciamos os mesmos ritos, as mesmas celebrações, os mesmos feriados, respirando a nostálgica repetição incoerente que nos incita a refletir sobre a nossa condição humana... o nascer do sol já não nos afigura como uma novidade, nem mesmo como uma benção celeste, a noite nem sempre nos agracia com o fulgor de seus astros e os olhares marcados pela dor nem sequer questionam sobre sua própria essência. A existência, vazia de sentido e de perspectiva, se afigura como um tenebroso jogo de interesses e de posições... a febril necessidade de sempre estarmos antenados a novidade, atrelados a valores superficiais que com seu colorido anestesiam os nobres valores da alma, pouco a pouco minam a possibilidade de uma real transformação na consciência dos seres humanos. Enquanto isso, em algum matadouro qualquer, ouvem-se os gritos estridentes de um porco sendo morto, seus restos mortais que alimentam nossa fome e nossa intriseca necessidade de viver da morte alheia. O gosto selvagem da vísceras de um animal doméstico e inofensivo.
Postado por
Gino Ribas Meneghitti
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