Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!



Porque nos acostumamos a acreditar nos muros que nos cercam? Qual a origem da propriedade privada? Sendo Deus o criador de todas as coisas porque conferiu grande soma de vantagens, privilégios e regalias a certas criaturas? Estas perguntas deveriam ser respondidas pelas pessoas que se dizem religiosas e creem em algo superior.

Nascemos em um mundo que nos oferece perfeitas condições de existência e digna sobrevivência, porém, num belo dia, um homem resolveu cercar e delimitar certo espaço, dizendo ser seu por direito. Para convencer a grande maioria, teve que utilizar o nome de Deus e a força dos exércitos.

Como este homem conseguiu persuadir a grande maioria de que todos deveriam se curvar e servi-lo sem hesitar? Será somente sob o risco de serem lançados e queimados nas profundezas do inferno? Apenas com o apelo da razão? Durante muitos séculos, poucos homens têm se beneficiado do sacrifício de muitos. Em nome da Religião, do Estado e do Direito centenas de seres privam milhares do acesso à terra.

Não existe, como nunca existiu, nenhum testamento deixado por Deus ou por Adão conferindo legitimidade divina à propriedade privada. Habituamo-nos a acreditar que o mundo, desde que é mundo, é assim e sempre será. Os senhores da terra vociferam ao menor argumento a favor de todos e clamam, em nome de Deus, do Estado e da justiça o direito inquestionável de possuir algo que nunca foi, e nunca será genuinamente seu.

Severas contas deveriam ser prestadas por estes homens que se julgam donos da terra, que proíbem o indivíduo de atravessar o seu pasto e de ter acesso ao seu próprio terreno e local. Como podemos impedir o livre acesso de pessoas, com os mesmos direitos e deveres, aos recursos naturais? Como fomos capazes de institucionalizar, com ares de legalidade e de inquestionável autoridade, a divisão de terras e de recursos?

Uma das maiores tristezas que sinto ao subir o Morro do Cruzeiro é me deparar com uma vastidão de terra improdutiva e mal distribuída e, no fundo, pressentir e saber que muitos só terão acesso ao seu legado no fim, quando estiverem a sete palmos abaixo do solo. Sinto que fomos e estamos sendo constantemente iludidos e enganados em nome de uma suposta ordem e de um duvidoso progresso.

Somos levados a acreditar piamente na divisão dos homens entre senhores e escravos, como se fosse algo absolutamente normal, natural e necessário à manutenção do equilíbrio e arranjo social. Algumas doutrinas chegam a utilizar a religião e a ciência para defender a perpetuidade da divisão de classes. Como se não bastassem as pequenas tragédias e contrariedades do cotidiano, somos levados a crer que tudo opera em nome de nosso bem e da nossa evolução.

Mais triste ainda é perceber que todos os policiais federais, civis e militares, em sua grande maioria são recrutados na base para defender os interesses de quem é responsável por oprimir, iludir e roubar o povo.

Por que a maioria dos líderes religiosos e políticos que ousaram levantar a bandeira do humanismo, sob a rubrica do amor e da igualdade se viram de mãos dadas com a morte? Porque as pessoas que defendem a reforma agrária, principalmente no centro e norte do país são assassinadas? Porque todos os presidentes que caminham em direção ao povo são destituídos de seus cargos? Por que ainda imperam a vigência do coronelismo, do corporativismo e do fisiologismo estatal e político? São perguntas que não serão respondidas e que muitos gostariam de silenciar.

Por que certas pessoas temem as reivindicações sindicais se sabem, no seu íntimo, que nenhum direito neste país foi conquistado sem luta e esforço? Nunca na história deste país, quiçá do mundo, o povo conseguiu conquistar algum direito, sobretudo trabalhista, através do silêncio, da passividade e da omissão.

No imaginário de algumas pessoas ainda parece pairar a imagem da casa grande e dos negros docilmente recolhidos em suas senzalas. Quem acredita que todo tipo de manifestação, sindical ou não, representa um perigo e afronta aos alicerces forjados pela sociedade, deveria aprofundar um pouco mais seus conhecimentos históricos e (re) conhecer as causas e consequências de algumas revoluções.

A Revolução Inglesa, por exemplo, retirou o poder absoluto dos reis e fortaleceu o Parlamentarismo; a Revolução Francesa, com a queda da Bastilha, conseguir extinguir os privilégios do clero e da nobreza, abolindo a servidão e os direitos feudais, declarando para o mundo os universais princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.


Somente através de uma série de ações e manifestos, liderados pelo pacifista Martin Luther King, os negros americanos conquistaram certos direitos civis, entre eles o direito de votar; no Brasil, os caras-pintadas se tornaram os ícones na luta pelo direito de escolhermos diretamente o representante mor da nação: Diretas Já.

Como diria Rui Barbosa: “maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”.

0 comentários:

Total de visualizações de página

GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

Blog Archive

Posts mais Lidos e Visualizados

Frases de Albert Einstein

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

Páginas

Translate