Latentes Viagens

Este espaço é um experimento aberto, amplo, intuitivo e original. Liberto das amarras acadêmicas, sistêmicas e conceituais, sua atmosfera é rarefeita de ideias e ideais. Sua matéria prima é a vida, com seus problemas, desafios e dilemas. Toda angústia relacionada ao existir encontra aqui seu eco e referencial. BOA VIAGEM!

 
O livro foi escrito por dois jornalistas, Rogério Medeiros e Marcelo Netto,e descreve em detalhes as atrocidades cometidas pelo delegado capixaba Cláudio Guerra, que na época da ditadura era delegado do DOPs. Guerra foi um dos nomes mais temidos no tempos da ditadura, sua reputação inspirava temor e respeito, apesar de ter assassinado centenas de pessoas contrárias ao regime, era totalmente contra a prática de torturas. Com detalhes reveladores, o livro revela a face mais cruel e sórdida dos meios utilizados pelos militares para permanecerem no poder, desde reuniões secretas num tradicional restaurante do Rio de Janeiro, o Angu do Gomes, até o treinamento e financiamento por parte da Agência Central de Inteligência dos EUA, a CIA. O livro relata de forma cronológica acontecimentos trágicos de uma época marcada pelo medo e pela insegurança. Sua atuação se concentrava em toda região sudeste. Uma das táticas utilizadas pelos militares era o recrutamento de civis e militares para desempenharem atividades fora do seu estado de origem pois era uma das formas dos envolvidos não serem reconhecidos e agirem com mais liberdade e segurança. O livro cita nome conhecidos, do meio artístico, político e empresarial, nos deparamos com as ilustres figuras de Roberto Marinho, Brizola, Gabeira, Lucio Mauro, Boni, Maluf, Abílio Diniz. Vários atentados foram orquestrados contra a figura de Brizola por exemplo, todos sempre mal sucedidos. Gabeira foi outro a ser fortemente perseguido. Após ter voltado do exílio, era vigiado habilmente por um coronel linha dura, que não perdoara o fato de ter uma das pernas fraturadas em função de um tiro dado pelo mesmo, apesar de Gabeira negar veemente este fato. Guerra fora incumbido da missão de plantar uma bomba no avião que iria embarcar com o futuro deputado, no entanto, além de não ter identificado a presença de Gabeira o mesmo se deparou com uma cena que o fez voltar atrás: a quantidade de crianças e idosos a bordo. A bomba foi deixada no banheiro do aeroporto, fato este acobertado pela imprensa. Os relatos seguem uma sucessão de cenas dignas de um filme de terror, desde torturas, decapitação de membros, incineração de corpos, tiros a queima roupa, afogamentos e aparentes mortes acidentais. Todo um esquema montado em função de um só objetivo: a manutenção do poder e do regime na mão dos militares. Qualquer pessoa que representasse um risco e pudesse ser forte instrumento para alavancar os ideais de ordem democrática poderia se tornar num alvo que deveria ser rapidamente eliminado, sem rastros e pistas, sem direito a ser velado. A casa da morte em Petrópolis aparece como possível local de desova, assim como uma usina de cana de açúcar em Campos, que pertencia a um famoso empresário e era utilizada na incineração de corpos. A relação com os empresários e fazendeiros locais era estreita, os mesmos faziam parte de um grande esquema de tráfico de armas internacional. Na iminência de estourar uma possível rebelião a favor da reforma agrária, agentes americanos abasteciam os fazendeiros através dos militares, que utilizavam toda sua influência na compra e venda de armas. Além de terem sido fortemente treinados pela CIA os mesmos chegaram a receber a incumbência de executarem determinadas missões, entre elas a de explodir uma rádio comunista em Angola. Na época a presença maciça de cubanos fez com que o ataque se desdobrasse numa guerra sem precedentes, envolvendo todas as partes. Os militares voltaram no mesmo dia, e isto nunca veio a tona, até então. O empresário Roberto Marinho, das Organizações Globo, que sempre teve boas relações com os militares, no  final dos anos de chumbo, numa inútil tentativa de dissociar seu nome do regime, chegou a arquitetar com os mesmos um plano para que a sociedade pudesse acreditar que ele também era mais uma vitima da ditadura. O ataque em sua casa foi um plano bem bolado para que todos pudessem sair ganhando, os militares sabiam de antemão que a casa estaria vazia e a mando do senhor Roberto Marinho explodiram uma bomba, nenhum vestígio foi encontrado e ninguém foi notificado ou processado.  As reuniões entre os coronéis se dava num tradicional restaurante do Rio de Janeiro que foi recentemente reinaugurado, o Angu do Gomes, era um restaurante frequentado por políticos, militares e artistas, entre eles Boni, Lúcio Mauro, Wagner Montes e Moacir Franco, todos com ligação direta com o regime. O sequestro do empresário do grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz foi efetuado numa frustrada tentativa de manchar a reputação do PT, que naquela ocasião disputava um cargo a presidência, sendo a principal força oposicionista, com o candidato Luis Inácio "Lula" da Silva que viria a ser derrotado após uma descarada manipulação do debate televisivo em favor de Fernando Collor. Cláudio Guerra era apenas um civil cumprindo ordens dos seus superiores, geralmente era o responsável pelo tiro de misericórdia. Entre tantos acontecimentos, é possível entrever a atmosfera de medo e desconfiança que permeava seu universo intimo e particular, presenciou a morte de milhares, assim como o favorecimento ilícito de tantos outros, entre eles, podemos citar um grupo particular, o dos bicheiros. Após a queda do regime, teve como padrinho o famoso bicheiro carioca, Castor de Andrade, que após ter lhe revelado o funcionamento de sua engenhosa estrutura, ajudou a aplicar o mesmo procedimento no Espirito Santo, Guerra seria eternamente grato por isso, se não fosse seu encontro com Deus e sua conversão a uma religião de origem evangélica, movido por este sentimento de remissão e arrependimento, ele abre o jogo num livro surpreendente e que com certeza merece ser lido por todo aquele que de fato interesse um pouco pela história recente de seu país. Um belo convite, boa leitura a todos. 

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GINO RIBAS MENEGHITTI

Admiro todas as pessoas que ousam pensar por si mesmas.

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